sábado, 8 de dezembro de 2012

E nunca mais se viram [Microconto]

Se deu num cruzamento, o "Pare" era dela. Freou, esperou que o fluxo de carros cessasse. Ele deu um passo para fora da calçada, mas a passagem dela ficou livre. Ele parou, em dúvida sobre prosseguir. Seus olhares se encontraram. Ela sorriu, como se pedisse desculpas: não podia perder a chance de atravessar. Ele devolveu o sorriso, cheio de gentileza, achando graça. Compreendia.

sábado, 1 de setembro de 2012

Calico e eu



Se minha história com Calico fosse virar um filme, ela provavelmente seria uma comédia. Uma comédia quase romântica, aliás. Com um toquezinho de drama – bem pequeno mesmo.
Conheci o Calico pela internet. Infelizmente não foi no chat da uol. Foi no facebook de uma amiga de infância, a Thaís. Ela o encontrou, assim como a seu irmão, perto de casa. Como protetora independente de animais, logo decidiu levar os filhotinhos para casa. Lembro-me de ter lido algumas atualizações de status dela sobre gatinhos ronronando serem uma delícia e sobre a alergia dela estar atacada, mas nem dei muita moral, afinal ela tá sempre falando de animais. Algum tempo depois, Thaís postou fotos dos dois irmãozinhos fazendo fofices. Isso, por sua vez, me chamou atenção. Lá estava escrito que eles estavam para adoção. Já fazia quase cinco anos que eu não tinha nenhum animal em casa e eu sempre amei gatos. Tive quatro, se não contar os filhotes da minha gata (11). Meu apartamento já tinha telas em todas as janelas (só tive que improvisar pra arrumar um buraco na área de serviços). E eu estava apaixonada por aquela orelhinhas negras e os olhinhos acinzentados que hoje se tornaram amarelos (é possível ver nas fotos).

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Conversa de banco

Tarde no Banco do Brasil. Esqueci meu livro no carro. O carro estava a quase um quilômetro do banco, pois foi o único local onde encontrei vaga. A uma certa altura da tarde, surge um senhor de 60~70 anos que se senta ao meu lado. Transcrevo a conversa:

Ele: Hoje em dia tá tudo em inglês. Até no banco! Banco online. Personalized. Tudo em inglês! Num é mesmo?
Eu (que acho melhor concordar do que contrariar): Uhum.
Ele: Agora é moda. Você é o quê? Portuguesa? Inglesa?
Eu (assustada): Sou brasileira.
Ele: Brasileira de onde?
Eu: Daqui mesmo.
Ele: E qual que é o seu nome?
Eu: Diana.
Ele: Vê só! Daiana! Até seu nome é inglês.
Eu: Não, meu nome é Diana.
Ele: Ah, num é Daiana, não? Esquisito. (Pausa durante a qual eu achei que ele ia me esquecer) Mas e esses políticos, hein? Esse mensalão vai dar em nada. Lula e essa Dilma aí, são tudo trambiqueiro. O cara já disse que era o Lula que mandava na bagaça toda, mas ninguém vai preso nesse país. Até aquele palhaço do flamengo que matou a namorada. Dois anos na cadeia! Bem que ele falou "tô livre". E ainda diz que ano que vem vai jogar na seleção.
(Achei que ele ia escarrar e cuspir no chão, sério)
Eu: Terrível mesmo.
Ele: Você votou em quem? Na Dilma, né?
Eu: Foi.
Ele: Olha aí, é gente que nem você que estraga tudo.
Eu (já meio grilada): E o senhor queria que eu votasse em quem?
Ele: No Serra!
Eu: Ah, mas o senhor é tucano? E ainda reclama do Lula?
Ele: Esse Lula é um corrupto. Vê agora, tá tudo parado: hospital, educação, transporte, polícia! O povo faz o quê? A mulher tá grávida, dando à luz, e tem que esperar um mês mais pra ver se a greve acaba? É um absurdo. A Dilma faz o país inteiro parar e ela fica lá, roubando tudo.
(Outra pausa enquanto eu penso se não devo perguntar o que ele acha do Marconi e se ele votou no Demóstenes)
Ele: E você faz o quê? Estuda?
Eu: Sim.
Ele: Estuda o quê?
Eu: Engenharia química.
Ele: Engenharia química é bom. Meu filho fez engenharia mecânica, trabalha na Ford, lá em Minas.
Eu: Legal.
Ele: E seu pai, faz o quê?
Eu: Trabalha na Oi.
Ele: Outro ladrão!
(Opa, esse velhinho tá ofendendo meu pai gratuitamente?)
Eu: Como?
Ele: A Oi. Rouba demais. Meu celular da Oi, os créditos somem! O da Claro dura um tempão! É que nem o filho do Lula. Já viu? É dono da Gol, do porto do Paraná, de Santos (mais um monte de coisas que eu não lembro). E ninguém chama o safado pra depor e dizer de onde tirou esse dinheiro todo.
(Lógico que fiquei calada de novo.)
Ele: Vê aí se já é minha vez.
(Me mostrou o papel dele com a senha. Obviamente ele seria atendido antes de mim, porque sua senha era preferencial)
Eu: Faltam dois, aí é o senhor.
Ele: E você? Ainda demora?
Eu: Demora. Faltam umas dezessete pessoas, sem contar os preferenciais.
Ele: Quer que eu pague pra você?
Eu: Não precisa, não.
Ele: Vamo lá comigo, aí pago e você fica livre.
Eu: Não, não 'tô com dinheiro, 'tô só com o cartão.
Ele: Você tá é com medo de eu roubar seu dinheiro, né?
Eu: Não, tô só com o cartão mesmo.
Ele: Então vamo lá, eu falo que você é minha filha.
Eu: Mas isso num é corrupção? Tentar tirar vantagem? Tem gente que entrou na fila antes de mim.
Ele: Minha filha, quem não é corrupto hoje em dia fica pra trás.
Eu: Aí nós vamos ser iguais a eles, o pessoal do mensalão.
Ele: Você não entende nada...

É, acho que não entendo mesmo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Marie Claire Esporte e o Machismo Olímpico

É oficial, pessoal. O foco das Olimpíadas, especialmente no Globo Esporte online, mudou de tal forma que fui forçada a fazer uma coletânea das pérolas encontradas. O, carinhosamente apelidado por mim, Marie Claire Esporte tem feito um desserviço ao jornalismo brasileiro com suas matérias de péssimo gosto e com enfoque pouquíssimo profissional.

Antes que eu ofenda a suposta liberdade de imprensa do pessoal, já esclareço: comentários podem ser feitos, mas esses ultrapassaram o ridículo. Um site de jornalismo esportivo que só fala das mulheres tratando de suas características físicas (só as não relacionadas ao esporte, claro) e, o mais impressionante, agindo como se isso fosse importante? Não se vê matérias sobre a superação das atletas, apenas sobre suas roupas, sua depilação e até sobre a existência ou não de seus himens. Aos que não acreditam, inicio o show.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Rápida consideração sobre o Rapex


O estupro tornou-se um problema endêmico na África do Sul, então uma técnica da área médica, chamada Sonette Ehlers desenvolveu um produto que imediatamente chamou a atenção nacional. Ehlers nunca se esqueceu de uma vítima de estrupo lhe dizendo, "Se ao menos eu tivesse dentes lá embaixo." Algum tempo depois, um homem chegou ao hospital no qual Ehlers trabalha com uma dor terrível, por conta do zipper que havia fechado sobre seu pênis. Ehlers misturou as duas imagens e desenvolveu um produto chamapo Rapex. O produto parece um tubo, com fisgas dentro. A mulher o coloca como um absorvente interno, através de um aplicador, e qualquer homem que tentar estuprar a mulher irá se rasgar com as fisgas e precisará ir a um hospital para remover o Rapex. Quando os críticos reclamaram que se tratava de uma punição medieval, Ehlers respondeu, "Uma punição medieval para uma atitude medieval."

Essa mensagem é recorrente nos blogs brasileiros, passando por épocas de extrema popularidade e depois desaparecendo quando deixa de ser "novidade". Recentemente ela voltou à tona mais uma vez e me senti obrigada a expor aqui uma breve reflexão sobre esse produto.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Resenha: História Fantástica do Brasil - Guerra dos Farrapos - 1º Conto: O terror dos teus inimigos


Como esse blog é totalmente aleatório e eu posto o que me dá na veneta, resolvi postar uma resenha que fiz do conto da Nikelen Witter na coletânea da Estronho. A razão desse conto em específico é que quero mostrar pra vocês a qualidade do que essa fofa escreve, afinal ela vai lançar seu primeiro romance no fim do ano (novembro) e é injusto que vocês nem saibam do que se trata, posto que é tão bom. O conto está disponível aqui, pois é a degustação da coletânea. Não deixem de ler.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Caixa de Pandora




Prometeu, o Titã que roubou o fogo de Zeus para dá-lo aos homens, tinha um irmão chamado Epimeteu. Prometeu não se cansava de alertá-lo de que Zeus poderia voltar a querer se vingar.
– E que tenho eu com as birras de vocês? – disse Epimeteu.
– Idiota! – exclamou Prometeu. – Ele pode querer vingar-se em você, ou na humanidade!
Epimeteu deu de ombros, pois não era à toa que seu nome significava “percepção tardia”.
Enquanto isso, no Olimpo, já estava em marcha uma nova vingança de Zeus. O pai dos deuses mandara Hefestos confeccionar uma mulher biônica para enviar de presente aos irmãos rebeldes. Todos os deuses deram sua contribuição para tornar a criatura irresistível, razão pela qual ela se chamou Pandora, que quer dizer “bem-dotada” em grego. Zeus, na verdade, ficou tão encantado que, não fossem os olhares irados de sua esposa, a teria tomado para si. Depois, deu uma caixa para a jovem, para que ela a levasse de presente a Epimeteu, pois era para o irmão imprevidente que a beldade seria enviada.
Pandora, porém, sentiu-se meio confusa:
– Mas não sou eu o presente? Um presente levando outro?
– Não pense, menina – disse Zeus. – Faça o que eu disser e fará bem.
Zeus proibiu a garota de abrir a caixa com tanta veemência que conseguiu o que queria, que era deixá-la cheia de curiosidade. Ela partiu e, no mesmo dia, chegou à morada de Epimeteu, que delirou com o presente. Depois, ele a instalou no seu quarto, ocasião que ela aproveitou para ir ver o que a caixa continha. Porém, mal a abriu e uma coleção horrenda de criaturas escapou e se espalhou aos guinchos por todo o mundo. Eram elas: a Fome, a Guerra, a Doença, a Morte e um exército tão inumerável de flagelos que Pandora fechou a caixa outra vez, deixando presa no interior apenas a Esperança.
E este foi o último dos males, pois com a Esperança encerrada na caixa se tornaram intoleráveis todos os demais que a cólera de Zeus espalhara sobre a humanidade.

Via L&PM